Belém, 10 de Abril de 1990.
Bateu
forte o coração, muito jovem e desacostumado com cortes e feridas. Pulmões
cheios, sopro de vida. A claridade nos olhos, dois riscos, como duas sementes
de melancia. Parecia cegar como se os
raios solares estivessem a um palmo de seu pequeno planeta. A luz nervosa e
colorida arrancava lágrimas sofridas e berros tão altos quanto todos os sons
que a rodeavam. Uma barulheira, uma orquestra de tons desafinados e vozes
desconhecidas. Por que aumentaram o volume? Para onde foi aquele silêncio
gostoso e quentinho? Agora ela mal podia escutar seu pranto. Cada toque naquela
pele fina queimava, ardia, e deixava instantâneas marcas, como tatuagens recém
concebidas. Em meio ao frio, calor, medo e dor ela encontrou abrigo em um braço
e juntamente com um abraço que pareciam ser a primeira e única coisa boa
daquele momento. Um cheiro semelhante ao da vida de antes, um toque gentil,
seguro e confortável conseguiram acalmá-la por instantes. Mal sabia ela que
aquela voz a acompanharia, a acalmaria, e a apascentaria por bem mais do que
aqueles primeiros segundos da famosa e conturbada década de 90, que para ela,
estava só começando. Os anos 90 foram a sua vida. O que veio depois foram
apenas novos dias, quando outras luzes, sons e abraços, outros prantos no tempo
e no espaço, se somaram aquele único, verdadeiro e inusitado primeiro dia.
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